quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

TRANSCENDÊNCIA


Veja, ao longe, distante
Mãos dadas, inseparáveis.
Observe, mais um instante
Almas benditas, admiráveis.
Agora, perto, finja
Disfarce a indelicadeza
Mais uma vez minta
Deguste sua fraqueza.
Adeus! Seguiram felizes
Lábios atados, desatino.
Corações aprendizes
Vida que segue destino.

(Caio Dimitri)

SEM TÍTULO


O poeta esbravejou:
Empunhando a emoção
Na melodia do coração
Mais uma vez versou
E comoveu.

(Caio Dimitri)

sábado, 19 de dezembro de 2009

RECADO


Mostra-me o caminho
Teu atalho, meu desvio
Revela-me tua face
Teu desejo, meu impasse

Dizei-me tua vida
Tua sorte, indefinida
Desfaz-me das dores
Meus anseios, teus dissabores

Encara-me sem medos
Meus vacilos, teus segredos
Procura-me com calma
Em meus olhos, tua alma

(Caio Dimitri)

CREPÚSCULO

Aquelas tardes!
Gostaria de voltar àquelas tardes de domingo,
Quando o sol parecia menos intenso, denso.
As horas perdidas naqueles minutos,
A noite eterna em poucos segundos, profundos.

 
Doces tardes!
No vôo sobranceiro dos pássaros,
O assobiar da melodia triste, persiste.
Na palma da mão o destino,
No pé descalço mais um passo, cansaço.
 
Saudosas tardes!
Um brinde a cada eternidade,
A vida em futuras lembranças, esperança.
O passado em tons amargos de chocolate,
O futuro nas doces notas da percepção, aflição.
 
Inimagináveis tardes!
Quando a maior distância entre nossos lábios
Era o medo do desconhecido feroz, algoz.
Entrelaçando-me em teus olhos,
Em trincheiras de sensações, ilusões, paixões.

Fim de tarde!
Quando as flores jamais murchavam,
Os espinhos jamais machucavam, sangravam,
Os beijos cálidos à exaustão,
À sombra do teu adeus insensível, inesquecível.

Crepúsculo!
Desperta-me!
Aurora de novos tempos!

(Caio Dimitri)
OBS: o título não é nenhuma alusão ao famoso livro/filme, tampouco inspirado neles. O texto foi escrito antes da badalação ao livro que, inclusive, nem conheço. Ao ler, vê-se que não há nenhuma referência a supracitada obra.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

INCONTROVERSO




Há coragem no verso
Razão inabalável
Outrora inesgotável
Cede ao incontroverso

Não há lógica, nem meço
Palavras pequenas
Revelam apenas
O coração de um confesso

Timidez, acredite
Nobre, tão puro
Impaciente e inseguro
Ao primeiro convite

A consciência resiste
Feridas se espalham
Destroços se encaixam
O humano insiste

Coração, não te censuro!
Mostra-te forte
Arrisque a sorte
Apaixonou-se, prematuro!

(Caio Dimitri)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

SINONÍMIA


Parece-me óbvio.
O acaso, o ocaso irritante.
A loucura, a procura inquietante.
A paixão, a solidão confortante.
A dor, o amor inconstante.
Você, eu.

(Caio Dimitri)

DESABAFO I


Não acredito no futuro
Nem me deixo à sua serventia
Prefiro a surpresa do prematuro
A padecer em incerta agonia

Desejar a minha estrela pequena
Ínfima demais pra luzir
Esperar não vale a pena
Nem compensa a dor de existir

Não gosto de sonho ou plano
Ao tempo nunca subestimo
Cada vez mais insano
Não o faço meu arrimo

Rebuscar no vazio vulgar
Traços de destino irresoluto
Perecendo sem nunca alcançar
A glória, o êxtase absoluto

(Caio Dimitri)
 
Alusão ao poema "Final Feliz", brilhantemente escrito pelo poeta e querido amigo Rafael Fontana.

VIDA


Nem sempre me entreguei nas vezes que lutei
Tentando me levantar, buscando meu lugar
Nas vezes que sofri, nas vezes que desisti
Na vida nem tudo é amor, quase sempre há dor
O tempo não apagou as tristezas que chorei
Quando me perdi, quando não consegui
Ninguém estava aqui, ninguém olhou por mim
A vida não é tão simples assim
Há tantas coisas que eu não sei, em outras tantas já errei
E agora que estou aqui, dá vontade de fugir
De esquecer o que vi, apagar o que senti, escolher o melhor pra mim
No vôo cego do pensamento, buscando a solução
Tentando encontrar no sentimento, qualquer razão
Sentidos tão diversos, opções é o que não temos
No irritante fascínio da vida, abrem-se mais as feridas
Que nunca cicatrizam, mas sempre desmotivam
O sonho entre nossos dedos, refúgio dos próprios medos
Angustiante desafio na correnteza desse imenso rio
Na dúvida do caminho, na certeza do destino

(Caio Dimitri)

A CHAGA DE EROS


E se Zéfiro me perguntar por onde andei
Direi que aprendi a voar quando te conheci
Foi quando Eros me ensinou a não chorar
Que criei asas e voei
Para longe
Perto de ti
Chronos me levou sem avisar
Quando não mais quis te amar
Me enganei, sofri
Morri

(Caio Dimitri)

PLATÔNICA

Como se não bastasse tua linda boca,
Carnuda, bem torneada
Acabamento perfeito de teu sorriso
Dona daquelas longas e sedosas madeixas
Complexo de fios da mais pura seda
Moldura de perfeita simetria.
Como se não bastasse tua pele cheirosa
A mais macia das nobres plumas
Escultura de beleza e vida.
Como se não bastasse ainda teus olhos
Misteriosos e fascinantes
Fitando os sentimentos mais recônditos
Inimagináveis sensações de paz
Em sinergia com o sol para iluminar a escuridão
Como se não bastasse tu
A mais perfeita das criaturas
Que sabe provocar o amor na mais pura de suas manifestações
Que transforma o céu num simples coadjuvante para teu caminhar
Para a tua benevolência radiante, para o ar que respiro
Para a vida que nos traz
Para o coração que faz bater

(Caio Dimitri)

SINGELO


A flor perfeita...
o sorriso nos lábios
os olhos, relicários
tão bela.
tão Ela.

(Caio Dimitri)

A BELA E A ROSA



As rosas brotavam de seus cabelos,
E as pétalas confundiam-se com sua pele.
Os anjos entorpecidos ao seu redor, pasmos, indagaram:
- A bela ou a rosa?
E, por um instante, o mundo também parou, embevecido.
Os sons que desprendiam-se daquele retrato
Bailavam incessantemente, sublimes.
A rosa parecia murchar-se diante do perfume sobranceiro que emanava daquela tenra menina, mulher.
As pálpebras intrépidas que cobriam os olhos pareciam incapazes de conter a pureza que transbordava daquela alma.
A flor entre seus dedos contemplava, mostrava-se frágil diante de tamanha perfeição.
Tão bela, parecia movimentar-se em seu estatismo, suavemente, como as estrelas no infinito.
Naquele momento, o Criador, absorto, hesitou:
- A rosa ou a bela?
Aclamando-a como se fosse a única e última de suas criações.

(Caio Dimitri)

PERMAFROST SIBERIAN


I - GELIFAZENDO-SE

Não significa que sinto
Tantos recortes inúteis
Confesso que minto
Sentimentos tão fúteis.

Palavras improváveis
Mãos de mente perigosa
Versos descartáveis
Boca de lábia duvidosa

Não significa que choro
Perfídia em lágrimas
Tanto quero e ignoro
Amores em lástimas.

Esqueça a emoção
O gelo derretido
Mas o aço do coração
Anda um pouco retorcido


II - MIMOSA PUDICA

Significa fingir
Sentir tudo e não expressar nada.
Mas não é fácil mentir.
Palavras ficam como tatuagem marcada.

É rezar pra alguém abrir a porta.
Cantar solidão assobiando companhia.
Coração que se fecha como folha morta,
quando quer pulsar no ritmo da arritmia.

Sorriso sem sinceridade.
Tempo que sempre parece ser cedo.
Personagem sem autencidade,
Sempre esconde um segredo.

Ser fortemente um fraco.
Desfazer e não acreditar
Guardar um brilho opaco
No fundo é só medo de amar.


III - FUSÃO

Coração de aço,
Forjado no calor.
Perde o compasso
Em contato com o amor.

Coração de gelo,
Moldado na frieza.
Se derrete inteiro
No fogo da beleza.

A chama que derrete é a mesma que endurece,
Depende da intensidade.
A flama que inflama é a mesma que aquece,
Depende da veracidade.

Dor, amor ignorado, coração retorcido.
Frio sem emoção, se perde em segredo.
Duro, sentimento pré-moldado, vida sem sentido.
Lá vem outro amor, se despede do medo.

Tente, dessa vez é à vera.
Deixa o gelo derreter no calor, quebrou o aço.
Sente, lá vem a primavera!
Deixa o coração se abrir em flor, em laço.


(Caio Dimitri/Lucas Souza)